ABSTRATA
Veste-me o corpo nú, as pétalas da ausência
nos poros que ardem o viés da fragilidade
Não sabes que me falta os espinhos, a sapiência
a cortar-me em solidão, o caule da verdade
Tão entregue, já não disponho dos planos
(E eram tantos os nossos sonhos!)
A mover-se lentamente nas horas que não as conto
a sangrar-me tuas queixas, nas reticências e pontos
Até que se sorva da alma a sutileza das flores
até que me banhem os orvalhos da tua pele, os odores
para que em mim silencie as vozes cinzentas das cores
para que não se esvaia de mim, o excesso de amores
O corpo vaga sem destino,
a fitar os horizontes sem qualquer desalinho
Emudeço qualquer palavra
e me preencho da arte abstrata
pois do amor não há pauta exata
tampouco beleza ingrata.