DESERTOS E FANTASMAS

Sobre as estantes camadas de pó

por entre vozes, eu aqui tão só

O dia corre, o tempo escorre

Em mim, num mesmo instante

alguma coisa nasce, outra morre

Estou aqui tentando sair

desse deserto assombrado por fantasmas

Agora eu sei, esse algo que insiste

A claridade que só o tempo permite

Não aprendi o que pensei

estar tão bem aprendido

Percebo, sem querer

Não esqueci o que achei

estar morto esquecido

Todas as palavras

São estradas tortas

e esburacadas

Que levam a lugar nenhum

São labirintos sem saída

São infinitos de uma vida

São só promessas

São só enganos

São apenas grãos de areia

misturando-se ao fundo do mar

Eu não queria confessar

Que tudo é tão vão

E eu já estou tão são

Para viver

Empoeirado, empoleirado

Vendo o mundo passar

por mil janelas

acendendo velas

para vozes, odores e telas

para sentimentos desbotados

pelo tempo, pelo sol

pelos ventos de ontem que passaram

Hoje, do amanhã estou mais perto

Incertezas é o que há de mais certo

As portas ainda estão abertas

E o mundo dá suas voltas

sem nunca pensar

que as voltas que ele dá

são menos voltas

que nós temos

para aqui estar