SER-NÃO SER
Val-Larbcky
Fez-se noite.
Um negro manto me cobre o todo
E me encobre o tudo:
O que sou,
o que não sou.
Estou enxergando sem ver
uma imagem distante,
e uma angústia me
aproxima do eu encoberto.
Sinto-me num desaparecendo
por uma espessa nuvem
que agora me cobre.
Queria mesmo tornar-me invisível,
mas sensível,
pelo eu que está fora de mim.
Distanciando-me na sinuosa estrada,
quero me ver,
quero me enxergar ao longe,
além do meu raio de visão.
Enxergo,
sem ver,
uma imagem distante...
Queria ser agora somente ar
e integrar-me às moléculas
que compõem a atmosfera além
do negro manto que ora me envolve.
Queria tornar-me invisível,
mas sendo sensível.
Como sou,
alio-me àquele eu que está fora de mim;
que não me pertence
mas a ele estou preso.
Esse eu é independente.
Ele vai...
Ele vem.
Quando estou com ele,
vivo;
Ilusoriamente,
mas vivo.
Vivo os momentos
de um ser-não ser,
sob o negro manto.
Sorrio,
então,
‘abraçado’
a meu eu,
que me clareia com uma
luz vivificante,
que emana de um olhar
que entrevê o eu sob o negro manto.
Ah!
Como eu queria ser o ar para acariciar,
em forma de suave brisa,
seu todo;
e ser aspirado,
transformando-me em potente energia
e chegar àquela mente
fazendo-me conhecido...
E ser libertado.
Assim como sou
verdade é que não sou.
Estou preso.
E estando preso,
resta-me ir vivendo,
embora que ilusoriamente,
os momentos da lucidez entrevista
através do negro manto...
Neste estado de ser-não ser.