Tem gente, tanta gente
Cada vez mais e cada vez sem
Cara, cabelos, dentes
Tem gente que existe
E não sente
Que seu tempo por aqui findou.

Tem gente tão boa, crente
Amiga do Deus esperto
Aquele que faz tudo incerto
E ainda nos pede louvor.
Tem gente que tem alma
De elefante, pesada
insensível à dor.

Tem gente e gente e mais gente
Neste velho cavalo
O mundo em que a gente montou...
Melhor seria bem mais vazio
Sem sons, apoteoses, cacofonia
Salão deserto de fastio e horror.

Mas não tem jeito
Porque João agarra Ana
Chama ela de amor
Depois vira piranha
E aí vem mais gente
Devorar o que restou.

Se eu pudesse apagava tanta gente
Com uma borracha incolor
Ia deixar o planeta limpinho
Do jeito que sempre se sonhou.

Mas quem pode contra tanta gente?
Ninguém! Diz o Papa
Foi Deus quem os criou...

Pelo menos, nesta balbúrdia
Um consolo restou
Deus criou sua auto-heresia
Paciência!
Mas foi desse mesmo jeitinho
Que Ele também me criou.