Avenida Manhã de Primavera
O motorista do Resgate bota a cabeça
pra fora da janela e quase mata
de vez a Dona Maria lá atrás,
com tubos enfiados no braço
agarrando-se ao último suspiro
com unhas e dentes e
por causa da Kelly que
vinha pela calçada no sentido oposto
com sandálias de dedo e
cabelo solto á volição do volitar
do vento e
com os ombros de fora usando um
tomara-que-caia
branco
sem sutiã e com um
belíssimo par de
coxas e
panturrilhas e
sorrindo pro buraco
da camada de ozônio;
tão poderosa quanto qualquer
Deusa já descrita por poetas
apaixonados e
sim; por causa da Kelly
as pastilhas de freio trabalharam
duro e a Dona Maria,
pela imprudência de um
causada pela inconsciente maldade
de outra
olhou por uma pequena fresta
o outro lado do mundo e
por alguns segundos quis
agradecer a Kelly por tal vislumbre
assim como o motorista que
ao botar a cabeça pra fora
berrou:
"Aí sim, hein? Isso que eu chamo
de vida".