O Livro e Eu

Por favor,

não arrumem

os meus livros.

É assim mesmo

que gosto deles

Espalhados pela casa

Tem dia

que me provocam

Não posso sentar

quieta na varanda

sem que Adélia

Lucinda

ou Clarice

fiquem puxando assunto!

Tem dia

que me consolam

Veríssimo

espera comigo

ferver a água do café

E Drummond

me vela o sono

Por favor

não desmarquem

os meus livros!

É assim mesmo

que gosto deles

Com dobrinhas nas páginas

Não se escandalize

Não, não são dobrinhas apenas...

São declarações de amor

Se eu fosse um livro

ia querer dobrinhas!

E anotações!

São como rugas

Sinal de que viveram

Sinal de que alguém

algum dia

se apaixonou por ele

chorou com ele

riu com ele

Então

que fiquemos assim

meu livro e eu

espalhados pela casa

e fazendo questão

de cada uma

de nossas rugas!

(Novembro de 2010)