A POESIA VEM QUANDO QUER (duas numa)

Todo dia uma poesia me batia à porta

Todo dia ela me chegava

Mesmo sem pensar a encontrava na rua

No sentimento que batucava no peito

No jeito de uma pessoa que passava

Na notícia do jornal

Ou por motivo qualquer ou sem motivo também

Mas há tempo ela não vem

Procurei-a em todos os cantos e nada

Forcei. Fui atrás. Afinal estava viciado

Queria uma nas veias. Pra já

E nada....

Até que me toquei

Afinal

Eu dormira com o poesia outro dia

Com ela estive até bem tarde

Com ela brinquei falei troquei idéias....

Mas depois ela se foi pela porta

Logo cedo

Dobrou a esquina e sumiu da curva

E me deixou assim

Dolente e carente de palavras transversas

Que danada escorreita precisa

E escorregadia

É a poesia

Vai quando quer. Se volta? Talvez.

...........

EPITÁFIO DA POESIA

Deixa mudar a lua

Cair a chuva

Soprar o vento

Ir-se as flores

Que a poesia hiberne

Que as folhas caem

Que os dias nublem

Que venha o inverno

E tudo se cale

Que o cadáver desça

E tudo seja lápide

Que só fale

Quem dita a regra

Quem julga e condena

Os donos da verdade

E o resto se cale

Que o pano caia

O público saia

A casa fique vazia

Nenhum burburinho

No quintal

Na sala

As crianças durmam

Os velhos chorem

Que as borboletas lagartem

Nos casulos

A neblina caia

A inundação que tome tudo

E a vida se lave

Que o ciclo se cumpra

Que o novo depois raie

Todo mundo volte às compras

E o horizonte se aclare

Na hora certa

No tempo medido

Nem mais nem menos

Que se salvem os feridos

Que o arreio se parta

E quem sabe

A poesia retorne

Que retome a jornada

E as flores se abram nos jardins

Os perdões brotem

Que o frio estanque

O verão tire sua capa de chuva

E tudo se aclare

Enfim