[Que Mal é Esse...]
Quem pensa reto, se pudesse,
não arquivava — não arquivava
na mente, nem no armário de ossos!
O que importa que algo seja
achado tempos depois da partida?
Que mal é esse, a sempiternidade
tão audaciosa quanto fútil?
Se já as águas são idas;
voados os pássaros
de ainda há pouco;
cerrados aqueles olhos
para todo o sempre;
calados os gritos
do pátio da escola;
o tempo tecido fino
nas teias das aranhas.
Então, por que,
por que arquivar?
Por que não apenas
contemplar as estrelas,
estas sim, as mesmas
arquivadas pelos
olhos daquela criança
que não morre em mim...
[Se amar é viver... esquecer é curar-se?]
[Penas do Desterro, 30 de novembro de 2010]