À sombra dos Guapuruvus

dedico aos meus amigos, Thubin e Karina

Nossas tardes eram assim:

à sombra dos Guapuruvus entardecíamos

e assim

entardecendo

no ocaso do crepúsculo

do fim da tarde: íamos ouvindo!

ouvindo a tarde

em toda sua intensidade

a tarde

em transmutação

a tarde

se desfazendo

espiritualmente

em cores místicas

a tarde se desfazendo

dolorosamente

em música...

À nós

bastava olhar nos olhos

um do outro

para compreender

que não era somente o dia que entardecia

compreendíamos ali

que o tempo cuidaria

de nos entardecer também

compreendíamos

assim como as cigarras

e as mangas que amadureciam nos galhos

que o tempo

no ocaso

do crepúsculo

do fim da tarde

cuidaria

de nos entardecer também

tão logo o Sol se fosse

e assim lentamente entardecendo

nos perguntávamos

sem a necessidade

imediata da resposta: "onde vai dá tudo isso?"

e na vasta copa dos Guapuruvus

cigarras como que prevendo a morte da tarde

embalava-nos com seu blues...

eu lembro,

era mais

ou menos assim:

Ao som de um blues

Ao som de um blues

Ao som de um blues dançando nos Guapuruvus...

... vus. vus.vus.vus.

vus. vus. vus. vus.

vus. vus. vus...

Alex Canuto de Melo
Enviado por Alex Canuto de Melo em 29/11/2010
Reeditado em 29/11/2010
Código do texto: T2643527
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