Dual

Minha alma sozinha e desnuda,
Viu o ser parido em sofrimento,
Viu o corpo, flor que se transmuda,
Viu a vida em contínuo movimento...

Pedi aos céus, a deífica ajuda,
Com fé, árduo comprometimento,
Vi a imagem cega, surda, muda,
Em desvarios, em total abstraimento...

Eis que se avulta, com a luz, vem à tona,
Sem estar iluminada, teima, desaparece,
Inconfundível clarão, sua visão retorna,
Vi que o ser tem a figura que merece!

Em mim, aprisionado, sem liberdade,
Um disforme vulto, um molde escuro,
Seguindo-me, a esmo, por toda cidade,
Imitando-me com sarcástico acuro.

Espaço sem luz que o meu corpo tece,
Ficou comigo na preguiça, na mangona,
Sou pra ti a Pieta rezando última prece,
Santa mãe que o filho jamais abandona!

Vi a alegoria que comigo se parece,
Veio, mas não me abraça,
Vive comigo e por mim não se apaixona,
Apenas comigo vaga e gesticula...

Se o sol não nos aquece,
Sinto que a lua nos arrefece...
Mas tua confiança em mim não desmorona,
Siga, por ora, na minha humana carona!

Geraldo Mattozo
Enviado por Geraldo Mattozo em 27/11/2010
Reeditado em 19/04/2011
Código do texto: T2640188
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