Mácula

Já não há em mim pedaço qualquer

resguardado, pequeno resquício

abrigado da marca

dos teus dedos brutos, do provar

de tua língua áspera, do pesar

de teu olhar soturno, da mácula

de tua ofensa ingrata, insensata...

por tantas e tantas vezes fui tua

apenas eu a ofertar-te um bem-querer

que me é só... somente meu

E agora?

Sinto-me nua, ainda que coberta

sob esta fria casca, ora espessa

ora fina... de um rancor latente

a flor da pele

E agora?

Como fazer para aplacar

esta mancha, esta dor

este pulsante ardor que

ainda outro dia se chama amor

E agora?

Como resgatar-me? se já não há aqui

pedaço qualquer que ainda ouse resistir...

que já não julgue pertencer...

somente e inteiramente... a ti