Esplendor Desperdiçado

Quero dividir contigo

a floração da laranjeira

e o ouro das abelhas sibilando na janela.

O sol que doura a pele das laranjas

e pinta ocasos nas maçãs,

a jazida de rubis que se desprende do milho.

Preciso dividir contigo

A anunciação de um tempo novo

que põe vinho do arrebol nas taças do hibisco.

A trêmula gestação do arroz

insaciável de rio

que ondula na planície em um mar de esperança.

Quero dividir contigo

a brisa musical

que ensinou ao cata-vento o poema circular

e os acordes do arroio

fluindo pela noite

em percurso de cristal com reflexos lunares.

Preciso dividir contigo

o orvalho na vidraça:

em cada gota pulsante, uma estrela refletida.

E a poesia passageira

suspirando no silêncio

a vazão indefensável do esplendor desperdiçado.