HARPEJOS * Cantares... (1)

Eu canto as horas amargas

das cargas e das descargas

das barcas de arrojo e pinho...

Eu canto os longes das rotas

abertas pelas gaivotas

com asas de níveo linho...

Eu canto as horas sombrias

de medos e de agonias

no mais além da tormenta...

Eu canto as horas de luto,

naufrágios, febre, escorbuto,

sabor de cravo e pimenta...

Eu canto no Cabo Não

o sim de passar ou não,

mas nunca o retroceder...

Eu canto os Cabos da Dor!

Gil Eanes... Bojador,

Tormentas de estarrecer!

Eu canto as Áfricas virgens,

feridas desde as origens

de mágoas e predadores...

Eu canto as Índias da História,

Cobiças, dramas e glória,

de incensos e roxas cores...

Eu canto os áureos Brasis,

a cana em negro matiz

de açúcar de acres sabores...

Eu canto a nesga europeia

do Poeta e da Epopeia,

do Fado das nossas dores...

14 de Agosto de 2004.

Viana do Alentejo * Évora * Portugal

Do livro em preparação "O Alentejo não tem sombra..."

José Augusto de Carvalho
Enviado por José Augusto de Carvalho em 20/06/2005
Reeditado em 28/07/2018
Código do texto: T26364
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