Carlos e Eu [ 2 ]

Carlos e Eu - 2

"Na curva perigosa dos cinqüenta

derrapei neste amor. Que dor ! que pétala

sensível e secreta me atormenta

e me provoca à síntese da flor "

Desse néctar sutil, voz finalizada

a instilar-me inebriante veneno

qual efêmera ninfa embriagada

"que não sabe como é feita: amor

na quinta-essência da palavra, e mudo

de natural silêncio já não cabe

em tanto gesto de colher e amar"

E tanto , até que morte me defina

esvaindo em seiva retorcida

esse desejo denso que sublima

"A nuvem que de ambígua se dilui

nesse objeto mais vago do que nuvem

e mais indefeso, corpo! Corpo, corpo, corpo"

Objeto tenro e feroz. Faminto!

Alicerce mais que frágil, aniquilado

a doer-se a própria porosidade, venal

"verdade tão final, sede tão vária

a esse cavalo solto pela cama

a passear o peito de quem ama."

Claudia Gadini

09.05.05

[A Carlos Drummond de Andrade,

- Quarto em Desordem - uma homenagem ]