Lembrança De Chuva
Arrancava-me árvores e frutos da alma
Aquelas águas abundantes e calmas
Que com sereno êxodo caia
Ante à tarde que partia.
Estremecia-me o corpo de lembrança
Às gotas simples, que cheias de bonança
Traziam promessas de um tempo;
Um tempo sem tormento.
Ocultava-me atrás da vidraça averiguando
O milagre da tormenta desabar minguando
Uma gota perdida em cada telha
Que em mil dissipavam-se em centelha.
Ia devagar à noite vindo
Ante a cólera do vento infindo
Que ecoava na janela desesperada
À abundância de uma tempestade com lestada.
Assustava-me o bater do gelo no telhado
E o silêncio que tinha á vida no molhado;
Tudo parava para a chuva cantar sua ira
Desestruturando velhas casas de mentira.
Alguns choravam às perdas ao eflúvio
Daquelas águas que caiam em dilúvio
Destruindo conquistas e memórias dolorosas
Que o bom suor da vida tornava honrosa.
Chegava à madrugada com estrelas de ameixas silenciosas
E o temporal cessava com as nuvens auspíciosas;
Vindo a ser um bom tempo repleto de luz
Onde pela manhã a todo homem conduz.
Mas a todos que a presenciaram em alma passar
Ficaram inquietos e longínquos de tudo;
Mnemônios ao medo que sentiram do mundo
Trazendo para sempre uma gota daquela tempestade no olhar
E meus olhos mais de que todos os sem tetos
Mirava o sol cinza com seus raios certos
Que ao tocar o solo trazia à paz
Mas expunha a dor da chuva de minutos atrás...