Lembrança De Chuva

Arrancava-me árvores e frutos da alma

Aquelas águas abundantes e calmas

Que com sereno êxodo caia

Ante à tarde que partia.

Estremecia-me o corpo de lembrança

Às gotas simples, que cheias de bonança

Traziam promessas de um tempo;

Um tempo sem tormento.

Ocultava-me atrás da vidraça averiguando

O milagre da tormenta desabar minguando

Uma gota perdida em cada telha

Que em mil dissipavam-se em centelha.

Ia devagar à noite vindo

Ante a cólera do vento infindo

Que ecoava na janela desesperada

À abundância de uma tempestade com lestada.

Assustava-me o bater do gelo no telhado

E o silêncio que tinha á vida no molhado;

Tudo parava para a chuva cantar sua ira

Desestruturando velhas casas de mentira.

Alguns choravam às perdas ao eflúvio

Daquelas águas que caiam em dilúvio

Destruindo conquistas e memórias dolorosas

Que o bom suor da vida tornava honrosa.

Chegava à madrugada com estrelas de ameixas silenciosas

E o temporal cessava com as nuvens auspíciosas;

Vindo a ser um bom tempo repleto de luz

Onde pela manhã a todo homem conduz.

Mas a todos que a presenciaram em alma passar

Ficaram inquietos e longínquos de tudo;

Mnemônios ao medo que sentiram do mundo

Trazendo para sempre uma gota daquela tempestade no olhar

E meus olhos mais de que todos os sem tetos

Mirava o sol cinza com seus raios certos

Que ao tocar o solo trazia à paz

Mas expunha a dor da chuva de minutos atrás...

Gabriel Alcaia
Enviado por Gabriel Alcaia em 24/11/2010
Reeditado em 24/11/2010
Código do texto: T2633370
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.