As rosas exalam
Quem diria que num canteiro
como o que tenho em meu jardim
rosas tão belas em nevoeiro
sofrimento guardem assim.
Rosas espinhosas, envenenadas,
banhadas em sangue, em rubra cor,
que se próximas, se dadas,
me provoquem tanta dor.
O seu cheiro, tão carente,
apático de amor,
a procura de um ente,
para dar-lhe um sabor.
De despedida ou chegada,
de um começo ou um fim,
para trazer-me apaixonada
ou magoada uma alma a mim.
As rosas exalam,
nos falam de amor,
mas rosas não calam
da solidão o ardor.
Não se dão ofertadas,
pois comprá-las não se pode,
surgem-nos amadas
nos corações em seu molde.
Elas são atemporais,
nem os vermes as levam,
envelhecem jamais,
se eterna a paixão das mãos que as carregam.
Por lembrar-nos da saudade
ali, mudas, às vezes ficam,
mas nem ventos de tempestade
de nossas lembranças nos retiram.
Passam eras e gerações;
talvez até vejam meu anoitecer,
mas no menos assim nossas paixões,
as guardarão até a morte nos convencer.
E, mesmo nesse adeus,
as rosas me agradecem
pois se os momentos não mais são meus
suas pétalas me cobrem e eterno me protegem.