Da última varanda
É dela que vejo ao longe o mar.
Seu azul se confunde com o céu,
assim como meus pensamentos
se confundem com os meus devaneios.
As nuvens que passam
desfilam imagens das minhas fantasias,
que se fazem verdades para amenizar
as minhas saudades.
Se é noite e a lua exibe sua grandeza e encanto,
a ela me dirijo e suplico meus desejos mais íntimos,
pois em sua força acredito e fico a esperar
meu mais profundo sonho se concretizar.
A vida que por ela passa,
disfarça suas dores, suas frustrações, suas transgressões.
E eu que a estou a contemplar,
fico apenas a imaginar
que é tudo perfeito:
no casal que de mãos dadas está,
inexiste a insatisfação e os desencontros.
O veículo que passa sem pressa,
leva a promessa e a esperança da realização
para algum coração.
O velhinho que numa bengala se apoia,
agora apenas desfruta,
do fruto de sua luta.
Na última varanda,
a selva de pedra que se apresenta,
é o retrato de uma vida que procura no concreto,
firmeza e segurança, beleza e importância.
Da última varanda,
posso ver a rua da minha juventude,
ela que cravou meus passos esperançosos,
levando um coração desejoso de emoções,
de experiências ditosas e ações elevadas.
A última varanda não há de ser maculada,
pois ela é o santuário de minhas divagações,
e se alguma lágrima nela tiver que ser derramada,
deverá ser por eu nela estar despojada,
de tudo aquilo que me impeça de ficar extasiada.