SOB OS OLHOS DA NOITE

SOB OS OLHOS DA NOITE

Sob os olhos da noite

Borboletas sobrevoam flores de papel;

Enquanto falsos beija-flores

Envenenam as flores,

Com perfumes de mel.

À espera dos amores perdidos,

Caminham nas estreitas calçadas,

Iludidas, com quase nada,

As musas deste falso rondel.

Semi-nuas, se olham no espelho,

E retocam, com graça,

O batom vermelho;

Que cobrem os lábios, antes carmim.

Pobre de mim! Que as desejava.

Evolam-se na noite, com a vil fumaça,

Ao som das moedas,

Triste desgraça,

Os sonhos azuis

Das sutis senhoras.

Triste sina as espera!

Coloridas borboletas,

Que pelas calçadas voam,

Descobrem, no ardor

De um terno abraço,

A lâmina de aço,

Coberta de fel;

Dobram-se os joelhos,

Das vis senhoras,

Enquanto do peito

A alma jorra,

Coberta de sangue,

Em oração.

E como se fossem asas,

Suas mãos se levantam,

Em súplica ardente

Ao Sumo Senhor

Do negro véu.

E ouve-se o brado

Ao som de cornetas,

Vindo do céu:

‘Borboletas que são borboletas

Não sobrevoam flores de papel’.