Indas e Vindas
Eu vivo desvivendo...
Perdendo o fôlego e a cor,
nas oscilações bruscas da montanha russa que é minha vida...
Os sons cotidianos e o som das agonias humanas
lateja nos meus ouvidos e todas as vozes me irritam,
exceto aquelas que mais ninguém consegue ouvir...
Invoco a loucura e quão mais fácil seria se louca eu fosse!
Pois o que há de normal nessa realidade a minha volta?
As casas, os automóveis, os pedestres, os aviões,
não serão apenas fruto de minha imaginação fértil?
Real mesmo são as nuvens, é o vento, são as árvores, é o relento...
A fumaça do cigarro se dissipa lentamente como se dissipam as nuvens que namoro... O maldito cigarro que me mata pouco a pouco e isso também é uma ilusão sensorial:"Viver é ir morrendo aos pouquinhos!"
Minha coluna e meu quadril vão se despedaçando devagar, pois todos os processos são lentos... Deteriora-se o meu corpo porque vivo no espaço... Nos espaços... Em todos os espaços...
Sou o bonito balão da criança que numa fração de segundos, abriu a mão e o perdeu... E ele voou e foi-se embora... E ele foi avistado por outra criança e para esta o balão não vai, só está chegando...
A confusão mental - que não me permite saber em que lugar estou neste momento - é tão sincera... A única coisa certa é que estou aqui dentro de mim.Pessoas estranhas que nunca vi - e provavelmente jamais verei - me param nos corredores do mercado e conversam como se me conhecessem. Será que só eu não me conheço ainda?
E vou me desinteressando... Desapegando-me... Debochando de mim mesma e transformando-me no iceberg que irá rasgar o casco do meu próprio barco.
Não sei se faço um curso... Não sei se arrumo um emprego fora... Não sei se termino mais um livro...Não sei se quero estar aqui, pois ao mesmo tempo quero estar e o que vai mudar: estarei mesmo estando ausente...
Não sou como as aves ou os peixes que enxergam o caminho invisível no céu ou no mar...Meus sentidos funcionam mais do que deviam mais não servem para estes sons desnecessários...
Fecho os olhos e vou para cima das nuvens brancas e alguém perto de mim diz: '- Ela está em transe!'
Eu não estou aqui, mas as pessoas dizem que estou. Não sabem ainda que sou apenas fruto da imaginação delas... Fecho minha boca e meus dedos coçam... Fecho meus olhos e meus ouvidos se escancaram... Encolho-me toda e me escondo, mas o mundo inteiro me invade cabendo dentro de mim...
Publicado em Mural dos Escritores em 18 de Novembro de 2010.