NÉVOA TÊNUE
A alma se estorce amargurada
se esvai em triste lamento
Amar-te a vida inteira eu não podia
em falsos veludos caros!
Dizer-te os lindos versos raros
se teu sentir são pedras...mármores extirpados!
Há murmúrios dolentes de segredos,
nesta irmã do Sonho, e desta sensata sorte
Sombra de névoa tênue e esvaecida
Propago-me nas suas razões
Camuflo a verdade e as reações
E a pena ágil desliza, dizendo o que esse amor contém
minhas saudades raras...mas o sentimento não se retém
Uma parte de mim vive a marulhar:
__Tive nas mãos a esperança...
Vagarosamente articulada
Estátua de sal em morte minuciosa
neste sentido instantâneo revelado às pressas
vida feita de futuros - que não acontecem!
O amor, meu querido...
sem dúvida que o é, até mesmo, por vezes, arrebatador
Fresca ingenuidade!
Não chegará sequer a sê-lo
tempo do poema: agora, docemente
condição de ser tempo em duração fugaz...
liberdade, silêncio, solidão, vazio, fragmentação
uma completa ausência de pontuações
E, um pouco antes: ...antigamente
- fui as palavras - Aqui agora - apenas mudez!
através de uma mordacidade irónica
a opaca lucidez da poesia
no último verso isolado e suspenso,
num augúrio de (re)inicio que se aponta,
em (in)convocável metamorfose
Hoje apenas me penso.
Que venha sobre mim esse unânime grito,
agora que a vida se detém no que imagino
Tudo em mim cai e, ante meus olhos
ombros de cobre, imagem móvel da eternidade
da escrita porque essa mão move-se - de ver e de viver!