CADEIRA CATIVA
Na Nau da Alma dos Poetas
Quero ser a navegante antiga
E a passageira de primeira viagem;
A que se guarda taciturna na cabina
E a que se expõe gaiteira no convés.
Quero me abandonar aos versos sem desvelo,
Deixar que me redefinam as feições do rosto,
Que a melodia das sílabas brinde meus ouvidos,
Que as estrofes se espalhem sobre meus cabelos,
Que pousem nos meus olhos e me subjuguem os sentidos.
Quero devanear entre imagens pintadas com letras,
Fotografadas na retina de corações garimpeiros,
Fantasiar paisagens que não vi e cenas que não vivi...
Invejar as musas que geraram versos,
Amar os vates que os escreveram.
Quero fazer o contraponto dos ritmos e rimas,
Dos versos brancos e (des)encadeados,
Dos haicais, rondós e redondilhas.
Ser o alaúde, a flauta, a lira, o acordeão, o violino
Na partitura de uma poética trilha.
Quero ser a cantora, a atriz, a bailarina,
Ser a platéia, a amante, a diletante,
Ser as mãos, as vozes e as lágrimas
Que ovacionam os versos
E aclamam os poetas.
Venha, poesia!
Seja a cadeira cativa dos meus dias.
08/01/2005
Imagem: "Apollo and the Muses on Mount Helicon", de 1680, Claude Lorrain. Representa o Monte Hélicon, Apolo e as Nove Musas: Clio, Euterpe, Melpômene, Terpsícore, Érato, Polímnia, Urânia, Calíope e Talia.