VELEJADOR

O silêncio de pedra

constrói reminiscências

como se um fosso

fosse esse deslizar do barco

sobre a turva água.

Veleja o pensamento

e os olhos turvos

são ausências mutantes.

Aliás o pensar é um barco ágil

velas enfunadas

(cardadas por um grosso cordame)

e a clave de sol da Poesia

transita pés-de-pluma

como se fumaça

esvaída entre os dedos.

II

Em que ponto de horizontes

a cidade é em mim

o rio turvado sobre o leito

e meus olhos de espanto

a proa (dos caminhos)

por onde corre o verso?

Nada mais, talvez, do que o raio de luz

que perscruta a clarabóia

desta cabine de lonjuras

onde o amar

é o mestre veleiro.

– Do livro O SÓTÃO DO MISTÉRIO. Porto Alegre: Sul-Americana, 1992, p. 30.

http://www.recantodasletras.com.br/poesias/2622666