quem sabe outra mulher
depois de tudo passado
depois de tanto
mal virei as costas
mal sequei meu pranto
as feridas expostas
nem cicatrizaram em mim
nem cheguei a desfazer as malas
abrir as janelas
olhar o jardim
as flores
a rua
e a porra dessa saudade
reaparece do nada
e já se insinua
e como se fosse a dona
como se a casa fosse sua
se espalha por todos os cantos
deixa a casa vazia
ainda mais fria
e eu com medo
covarde
me escondo
dentro do meu sossego
embaixo das minhas cobertas
dos meus escombros
entre as rimas
dos meus versos
omisso
esperto
mantenho meu quarto trancado
a luz apagada
meus olhos fechados
meu peito deserto
sou incapaz de mudar tudo isso
mas eu sei que um dia eu aprendo
que um dia a vida me ensina
mas não agora
não por enquanto
ainda não tenho forças
ainda não tenho peito
ainda não é o momento
mas vai chegar uma hora
num dia qualquer
que eu vou ser invadido
por um outro sentimento
abraçado por outros braços
beijado por outros beijos
quem sabe outra mulher