Deixar que as palavras nos mude muito
Antes havia a necessidade do livro
Que aflito
Guardar papéis infindos
Passar a limpo o destino
O desatino
O íntimo e o explícito
Mudar o mundo e a si mesmo
Para ser o mesmo
E assim se manter vivo
Hoje tudo é resumo
Virtual
Que bom
Não ter culpa pela derrubada do verde
Letras sem futuro
Passageiras com a gente mesmo
Leve poeira
Uma pena no ar
Curtir o vôo breve
Um ou outro leitor
Algum comentário
Um escritor sem salário
Sem prefácio
Sem editor
Apenas palavras
Uma atrás da outra
Sem ponto ou vírgula
Regra ou acabamento
E a liberdade de criar histórias
Rever memórias
E depois ficar quieto
Sem alvoroço mudar um pouco a todo momento
E deixar que a palavras nos mude muito
..
(com elas expostas, ficar mudo, talvez; ou com elas em punho tentar mudar tudo, o mundo, quiçá, todo dia, "mal rompe a manhã")