Um vislumbre
Antes de jogar essa panela de arroz queimado fora,
tive um vislumbre:
Haviam moscas, onde eles dormiam
Haviam.
E eles sentiam fome, e nada mais.
Porque já não sentiam.
Aquele cheiro forte de dor
Aquela cor, que era só a sujeira impregnada em suas peles
então, na verdade, não sabiam de que cor eram.
Não se viam mais.
Acordavam cedo, porque mal dormiam
E iam procurar no meio do lixo o que comer.
E não tinham luxo.
Comiam aquela comida amarga,
que era boa, porque não conheciam outro sabor no mundo.