ESPASMO
Espero até ver-me cair, completamente, no
Escuro do quarto. Rubro.
Obra retórica de dois amantes.
Caído morto ou bebado de sono,
Atirado de corpo inteiro
No inteiro corpo que se estende
Na cama. Desarrumada,
Cenário de amor antigo.
Tento em vão, olhos na janela,
Adormecer ou desfalecer de vez.
Tenho a mão, por cima da dela,
A percorrer sua beleza casta.
Mais uma palavra muda
Vinda de minha boca. Fechada
Para seus ouvidos. Deusa incoveniente,
Incoerente. Onipotente insana.
Convulsões e espasmos no laço
De meus braços, teus braços. Rostos
Arrancados do cenário do corpo para
Confundirem-se num simples beijo.
Ardentemente simples beijo.