QUEM TE ARA?

- De quem és tu, Videira? Que não a distingo...

- Se tu julgas não me saber é porque mentes!

Se até me pisas, ao fingir que nem me sente,

Qual dono te importará agora, se já me tinjo?

- Videira, só bendigo frutos de terra bem arada...

- Bendiz? Sem lembrar-me: Nódoas no teu peito!

Que importa agora eu ter o aroma mais perfeito,

Se foi o tempo quem me conservou aqui calada?

- Embora negues, tão bem, em nada eu te acredito!

Se os vinhos nascem em tua voz, tão docemente,

Porque não diz que mão ama a terra que bem ara?

- Se te resta saber que mão me toca alegremente

Enquanto o mundo já me diz: Ah, Vinho Bendito!

Sou da mesma mão que, você lembrará, te ara!