DESAFIO
Poi, Zé, a viagem chegou ao fim.
Depreendo do esgarçar das minhas carnes
que nenhum ouro foi acumulado
além do reino.
Dos pássaros extintos apenas a saudade da manhã
ensina que há morte, e o que é a morte
senão a blasfêmia de uma álgebra
que se presta à charada e a anedota?
O Primeiro-Ministro despiu a túnica
e atirou o mapa no fundo da gaveta
em que a noite e o esquecimento
conspiram contra a Justiça.
Nossas auréolas atiradas na lama!
Como são idiotas os virtuosos,
assustados com a pedofilia e a infidelidade
permitem o sucesso dos assassinos e do cafetão
Pastores dinásticos e vagabundas velhas
proclamam uma nova ideía de inferno
dos olhos vazados dos donos da terra
aonde o mar ecoa nas pedras só porque é gago.
É hora de calçar as botas de setes léguas
feitas do couro de um dragão
e tomarem no cu o juiz o deputado
e o presidente porque o traficante inventou a moeda
e só porque a mentira conforta
o desafio que o Acaso crava
nos dados que me vendem o rim
é permanecer inteiro quando a semelhança
é o desaparecimento sem deixar cheiro
- o estranho no mistério da esquina
é bom conselheiro?