Retalhos

Rasgo-me em duas.

Buscando a lucidez dos meus passos

esbarro em sentimentos, esperanças que luziram em meu passado,

transformadas hoje em descrenças abrigadas num corpo em retalhos.

Lúgubre esconso em mim mesma, noite insone alimentando a dor,

pérfida rainha, repleta de mágoas, envolvida em tramas de ódio e rancor.

Mosaico sem cor...

Sofro minha própria ausência...

Na busca desesperada de minha essência, perco-me em embustes ardilosos,

ânsia febril sustentando-me em gemidos, gritos enfadados,

torpe pavor preenchendo-me os espaços arruinados,

observo os destroços,

incessante tormento assolando-me o espírito, triturando-me os ossos,

levando-me a crer em um mundo sem vida, sem luz, sem alma, imbuído em remorsos.

Noite sem lua...

Encontro-me em desencontros pelos cantos encantados de uma noite escura,

arrebato-me nos gritos de minha insanidade, rasgando meus sentidos, atirando-me nua.

Tentativa evasiva de obter a paz.

Entrego-me vencida, guerreira abatida em batalha perdida,

armas ao chão, rendo-me ao perceber na esperança a desilusão.

Vendo-me em sombras, torno-me ciente do contexto presente

e em breve momento de lucidez aparente,

reúno as sobras, os cacos, minha vida em estilhaços,

sonhos latentes em retalhos desenhados.

Aisha
Enviado por Aisha em 20/06/2005
Código do texto: T26138