Retalhos
Rasgo-me em duas.
Buscando a lucidez dos meus passos
esbarro em sentimentos, esperanças que luziram em meu passado,
transformadas hoje em descrenças abrigadas num corpo em retalhos.
Lúgubre esconso em mim mesma, noite insone alimentando a dor,
pérfida rainha, repleta de mágoas, envolvida em tramas de ódio e rancor.
Mosaico sem cor...
Sofro minha própria ausência...
Na busca desesperada de minha essência, perco-me em embustes ardilosos,
ânsia febril sustentando-me em gemidos, gritos enfadados,
torpe pavor preenchendo-me os espaços arruinados,
observo os destroços,
incessante tormento assolando-me o espírito, triturando-me os ossos,
levando-me a crer em um mundo sem vida, sem luz, sem alma, imbuído em remorsos.
Noite sem lua...
Encontro-me em desencontros pelos cantos encantados de uma noite escura,
arrebato-me nos gritos de minha insanidade, rasgando meus sentidos, atirando-me nua.
Tentativa evasiva de obter a paz.
Entrego-me vencida, guerreira abatida em batalha perdida,
armas ao chão, rendo-me ao perceber na esperança a desilusão.
Vendo-me em sombras, torno-me ciente do contexto presente
e em breve momento de lucidez aparente,
reúno as sobras, os cacos, minha vida em estilhaços,
sonhos latentes em retalhos desenhados.