Rascunho
Em papel avulso, minha vida vai sendo escrita.
Nada é certo, é tudo começo, idéias soltas ao vento,
rascunho de um projeto que inicia-se no pensamento.
Muitas são as tentativas de uma escrita perfeita,
de uma história sentida que vá além da vida,
de registros profundos que ultrapassem o simples rascunho,
mas os erros acontecem.
Palavras erradas, mal acabadas,
riscos sem ângulos, fora de esquadro,
desenhos ilegíveis, totalmente deformados,
nada que retrate o projeto que no pensamento foi iniciado.
E sigo com meu rascunho,
tentando,
errando,
tudo apagando,
reiniciando.
Crio novos desenhos, dando-lhes vida e sentimento,
coloco-os como centro desse projeto em rascunho,
dou-lhes cor, harmonia, alegria e esperança
e os observo e analiso com a ingenuidade de uma criança.
Na expectativa da observação,
pensando ter o projeto pronto em minhas mãos,
sofro a angustia de nova decepção,
pois o desenho, acabado, criado, aprovado e observado
vai desmanchando-se, lentamente,
desfazendo-se impiedosamente,
despedindo-se solenemente,
num papel de rascunho,
agora sem vida e sem importância,
tornando-se apenas
o pedaço de um sonho borrado.