Lusco-fusco


Claras, são as entranhas
Do lusco-fusco da aurora,
Da morte-vida que ao derredor
Se aninha; na rinha; na luta
Pela vida inglória

Que, sem temor nem glória,
Esperneia, grita e se arvora
Tal o ovo na frigideira,
Que, outrora flácido,
Se enrijece com a fervura;
Luta, briga, porém
Sua vida não dura mais
Que lhe permita a quentura
Da tenra banha que o envolve.

Escuras, são as noites
Que emolduram a vida perversa;
Que obscurecem o amanhecer;
Que enlutam os nubentes
Desde o trocar dos anéis
Até os nimbos do entardecer.

Tal o papel-de-parede
Sem cor, definha-se o nadir e
Mostra a cara o hoje, obscuro;
Não tão velho quanto o ontem,
Nem tão moço qual o amanhã.
Efêmero, apenas.