REMIDA

Eliane F.C.Lima

Pela fresta da janela,

vigio a sombra do lobo.

Muito temor e anseio:

arreganho do focinho,

seus finos dentes-punhal.

Rosnado e pingo de baba,

fascinação pela presa,

lenta lambida molhada,

olfato mais que visão;

olhos de sangue, espelho,

pupila de devorar.

Anseio mais que temor:

meu faro, o odor do pelo,

bafo de podre despojo.

E é paixão, não anseio:

o vulto negro na noite,

o caminhar sorrateiro,

corcova parca no breu,

cautela, cálculo, coragem.

A magreza de um sem corpo,

o lobo, alma fugida,

minha certeza passada,

minha força, minha fé.

Estou metade no escuro,

gemendo, fixa, para a lua,

meu uivo agudo de fera,

rosnado de predador.

Escancaro a janela,

salto para a noite aberta,

como, no pulo, meu lobo.

(Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)

Estou ainda em "Conto-gotas" com meus contos.V