Roupas rotas na corda


Roupas rotas na corda
Que vão tremulando ao vento
Dão aos olhos mareados
As cores da marca do tempo.
Anda a senhora cá fora
Devagar e mãos à cintura;
Passa por ela uma vida
Rugas, lida e desventura.
No ritual moroso,
Arrasta junto o pesar:
Velhos sonhos desgastados
Desejos risonhos, sonhados
Mortos, rotos, esfarrapados.
Realidade e contraste.
Recolhe o que ainda lembra,
E o coração mal comporta,
Pendura tudo ao relento
E junto tremula um lamento
Com as roupas rotas na corda.