Kathmandu

Enrolou um cigarro que acendeu de seguida

suspirando fundo olhou em redor,

estranho acordar sentado em cadeira de madeira,

fixou a orquídea amarela pendurada na janela,

sentindo o seu intenso aroma

tudo invadir, fundir-se ao som de uma guitarra

vomitado pelo rádio algures,

união violenta relembrando kathmandu

de longos cabelos tapando os olhos parados,

fixos em vale encantado rodeado de montanhas floridas,

nos infinitos silêncios de alegrias navegadas sem rumo,

natureza morta vivida,

quis desligar esforçando a memória,

queria rever, relembrar mais uma última vez

o amor deixado lá longe,

apenas o arco-íris das cores aparecia sempre, e a música,

uma flauta surda encantadora inundava a terra parada,

suspensa no orvalho matinal.

Regou a flor olhando a rua deserta de movimentos,

cantarolava sons desconhecidos,

deitou-se na cama desalinhada,

quase num repente voou sem paragens secretas,

lá do alto sorriu então

do reencontro imparável com a lembrança