Bebo poesia como a flor bebe orvalho

Bebo poesia na rua

Como a flor bebe o orvalho

Pelos poros pelos olhos

pela pele toda

Imagens e canções

Pelo passo

Malabarismo diário

Pelo magro pelo largo

Pelo compasso do povo

No seu vagar

No seu pensar coletivo

No seu caminhar infindo

Bebo poesia pelo conteúdo

Pela forma livre

Pelo desacato às regras

Pelo transverso gramatical

No sem estilo da mistura

Pela luta e conquista

Palavra por palavra

Verso e inverso

Pelo universo do olhar

Farto-me de literatura barata

De cordéis e miçangas

Pelo que me sangra

Pela fala e artimanhas

As manhas da sobrevivência

Sou mesmo um poeta torto

Ordinário

Comum

Fabrico meu mel no meu casulo

No isolamento da minha panela

Na sela isolada

Na perifa brava

Ela é nada é nada é nada

É só pequena

É só semente, uma só.

Que planto agora no deserto das almas.