ACEITAÇÃO DO VIVER
Plenilúnio desta manhã,
em que os pássaros
rapsodos
adejam aos ninhos
asas de fósforo.
(sob os pés dos deuses
humana história
Strauss deposita harmonias
acordes
solilóquios, ausências)
Ai de mim! Espreito o orvalho,
última lágrima úmida.
Ai de ti, menina nas retinas,
bailarina nos salões da memória.
Ornada de musgos, heras
esvai-se a nota musical,
pictórica,
dança, dobra o trigo
pão de amarga massa.
(irrealidade do som
ecos nos hiatos de mim)
Partituras
de quem se propôs à vida,
lúcido e sem protestos.
– Do livro O SÓTÃO DO MISTÉRIO. Porto Alegre: Sul-Americana, 1992, p. 21.
http://www.recantodasletras.com.br/poesias/2606785