“Andarilho II”
(Luiz Henrique)
Estava sem eira nem beira
No bolso - nenhum vintém.
Teso, duro, tosco e nada além ...
O mundo parecia nublado,
Nenhum específico desejo,
Sentimento nem bom nem ruim ao ensejo.
Segue adiante andarilho!
Não dê à razão espaço ou azo:
Cumpre à ti unicamente a trilha do acaso
Dificilmente irás encontrar,
Se pelo delírio da tua loucura,
Sequer sabes a quem (ou o que) procura.
Se não sonhas com o amor,
Uma noiva virgem e casta,
É porque a tua solidão te basta.
Se amanhã não tiverdes alimento,
Aceitará decerto aos favores sem culpa.
Tua desavergonhada humilhação a tanto faculta.
Essa barba mal tratada,
(Pelo que te alcunham vagabundo)
Faz teu olhar mais belo, sábio e profundo.
Bem te livras das intempéries,
Nesse caminhar sôfrego e torto.
A morte já não assusta a quem vivo está morto.
Se fostes lançado ao vôo,
Como um pássaro sem ninho,
Quiçá Deus dará direção ao teu caminho.
Dê guarida à tua demência
Para que da tua própria dor, dê risada
Tua vida – tal qual a minha - é quase nada
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Foto: Victor Melo
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