Ode à Baleia Encalhada

Ode à Baleia Encalhada

Ana Esther

Esta ode irregular,

livre,

porque de poeta

cujos versos ninguém lê...

Pois romântico em século

de ganância ignóbil

passa por louco...

...dedico a ti

Oh, Baleia encalhada.

Não interessa que saibam

que sofres, que somes... que morres.

Destruir a beleza criada

por milhões de anos férteis

é fácil, é lucro.

Porém, salvar nossa morada

agora

seca, estéril, moribunda

custa bilhões de dinheiros

podres, vazios, impotentes

perante a dor da vida

que se esvai pelo ar,

pelas matas, pelo mar,

pelo asfalto morto.

Oh, Baleia encalhada,

te vejo agonizar

pela TV, pela internet, pelo celular...

Sei lá o que fazer

sou poeta mudo

ninguém quer ler

para seguir sem ver

que fim igual se aproxima.

Oh, Baleia encalhada!

Já, já serei eu

em teu lugar...

e ao lado teu

seremos nós a agonizar.

*Este meu poema está publicado no jornal literário Letras Santiaguenses, Ano 15, Número 89, Setembro/Outubro, 2010, pág. 10.