MIGALHAS
Em cada canto deste corpo,
Palpita um vaso irrequieto;
Irriga-se, d'esperança, um sopro;
Alimenta-se do futuro incerto.
Em cada poro desta derme,
Expele-se um líquido à lume;
Transforma-se, o sangue, em seiva;
Faz-se, do suor, perfume.
Em cada pulsar, neste peito,
Escuta-se teu nome, em súplica;
Buscando o calor da companhia,
Acha o frio da ausência tua.
Em cada balbúcio desta garganta,
Encontra-se a voz do desespero,
Causado pela tamanha distância,
Forjada pelo amor, com esmero.
E este idealista, açoitado pelos dias,
Decerto contenta-se em sobreviver
Das migalhas de amor, nas mãos vazias,
Que insistes em oferecer.