Sou poeta, neste mundo,
canto versos, a cantar.
Sou poeta, voz do canto,
que, sempre, em comando,
determina o meu caminhar.

Sou poeta, escrava desse canto,
dessa voz que me conduz
Tudo a ver, nada a contentar-se.

Não sou o canto, não sou o chorar
Não sou o sol, não sou o luar.
Sou poeta - ser atiçado, provocado -
Instrumento do cantar.

Não me culpes se versos escrevo,
canções que não queres escutar
É que... sou poeta
E o canto que canto,
não sou eu que canto,
é o próprio canto, sedento, flamejante,
Senhor de mim, a ordenar-me.

Assim...
É dele esse cantar!

Sou poeta, a vagar...
sou objeto, sujeito a um canto
impregnado de querer,
que, sobre mim, abre as suas asas,
no meu ser  se incorpora,
obrigando-me a cantar,
ao seu canto me entregar.

Sou objeto desse canto
que me exalta e me aniquila,
Senhor da minha vontade,
dono do meu ser,
que me exige, me ordena,
obriga-me a não me pertencer.

Essência da minha essência,
corpo único, único ser,
Desejo fundido, em mim,
em desejos de mais querer.

Sou poeta, ser vencido,
disponível, comandado
pelos versos, a navegar,
arremessado, no horizonte,
submergido, no sensível
desse profundo mar sem cais.


Otelice Soares
Enviado por Otelice Soares em 04/11/2010
Reeditado em 04/11/2010
Código do texto: T2597225