CHORE O CONTINENTE DO CONTEÚDO A DESPEDIDA

Um segundo sequer

Um mísero segundo

Nem o rosto

Nem as mãos

Nem do peito o aconchego

E até pronomes troquei, escondi

E me cobra a poesia o suspiro final da agonia

Da mais nefasta sina

Da negação planejada

Da proibição nas planícies do átomo calculada

De imaginar alguém

Como um esvoaçar de cortinas

Tal um cego que deseja a luz

Não há da arte a companhia

Hei de viver

Esta e outras vidas

Assim como um castigo

De não poder acariciar as mãos

E a boca beijar

Como se fosse a salvação

Em mim desde sempre

Do segredo das coisas

Nas inúteis preces dos penitentes

Algo é bem maior

E eu procurava

Sem saber buscava

O pedaço mais íntimo de minh’alma

Agora o levarei comigo

E o Universo não será suficiente abrigo

Para este pensamento que não se acalma

Carrego a urna da poesia plácida

Imune ao contato da desgraça

E agora o que já era o esperado

Os meus vestidos estraçalha

O dia se estende

A noite continua

As estrelas dizem

Desce o clarão da lua

E tudo no mundo só tem um nome

E jamais se extinguirá a sede

De versos

A fome

Não com estas palavras sentidas

Chore o continente

do conteúdo a despedida

taniameneses
Enviado por taniameneses em 04/11/2010
Reeditado em 04/11/2010
Código do texto: T2596330
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