CHORE O CONTINENTE DO CONTEÚDO A DESPEDIDA
Um segundo sequer
Um mísero segundo
Nem o rosto
Nem as mãos
Nem do peito o aconchego
E até pronomes troquei, escondi
E me cobra a poesia o suspiro final da agonia
Da mais nefasta sina
Da negação planejada
Da proibição nas planícies do átomo calculada
De imaginar alguém
Como um esvoaçar de cortinas
Tal um cego que deseja a luz
Não há da arte a companhia
Hei de viver
Esta e outras vidas
Assim como um castigo
De não poder acariciar as mãos
E a boca beijar
Como se fosse a salvação
Em mim desde sempre
Do segredo das coisas
Nas inúteis preces dos penitentes
Algo é bem maior
E eu procurava
Sem saber buscava
O pedaço mais íntimo de minh’alma
Agora o levarei comigo
E o Universo não será suficiente abrigo
Para este pensamento que não se acalma
Carrego a urna da poesia plácida
Imune ao contato da desgraça
E agora o que já era o esperado
Os meus vestidos estraçalha
O dia se estende
A noite continua
As estrelas dizem
Desce o clarão da lua
E tudo no mundo só tem um nome
E jamais se extinguirá a sede
De versos
A fome
Não com estas palavras sentidas
Chore o continente
do conteúdo a despedida