MUTISMO

Sigo mudo... submundos de toda parte,
Num lançamento súbito e tenso,
Horas caindo pluma, horas lenço,
Por vezes virando sonho e outras restando arte.

Vivo na bamba corda dos malabares,
Todo queimando, flutuo manto,
Hora ser riso, hora ser pranto,
Atraio raios, espanto olhares.

Soprando vento de toda crença,
Como se fosse eu a liberdade,
Forjo-me santo na caridade,
Engano ledo que oculta a ofensa.

Antes temi a onipresença
E a todo custo me fiz de casto

Temente hoje à indiferença,
Trêmulo fogo, antes chegava, mas já não basto.


Nota do Autor:

De nome inicial, Afrasia, este é um dos meus mais queridos filhos, deu-me a honra do 1º prêmio que já recebí pelos meus singelos escritos tendo tido 3º lugar no 8º concurso de poesias da comunidade NAVEGANTES DAS ESTRELAS (http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=7318029). Não bastasse minha sincera admiração à coordenadora da comunidade, Maria Eugênia, e o agradecimento aos votantes, este texto parece cada vez mais me encher de alegrias, chamando atenção daqueles que mais admiro aqui neste mundo das poesias. Foi o 1º dos meus escritos a chamar atenção de minha querida madrinha e mestra Sônia Prazeres, que me dá a honra de escrever comigo em ecos cheios de emoção e amizade.
E com imensa felicidade, por "Afrasia", doravante, MUTISMO, recebo a primeira crítica de meus escritos, procedente, minuciosa, construtiva, de um poeta e escritor por quem tenho profundos, respeito e admiração. Assim, peço licença a Joaquim Moncks e posto aqui sua crítica muito bem tecida:

"Olá, meu amigo Gustavo Poeta! Tudo bem contigo? Enfim te reencontrei, graças ao milagre virtual. Topo-me, então, com o teu AFRASIA, poema que me chamara a atenção quando de nosso sarau, por sua esdrúxula titulação, já que não conheci o texto. Trata-se de uma bela construção em versos. Precioso, rítmico, com boa dose de sugestão e que termina com alguma transcendência. A única restrição é a formulação na primeira pessoa, e que, por isto, sugere o confessionário íntimo. Este vício poético, em alta dosagem, exclui a poesia, mesmo que em correta linguagem cifrada, codificada, com a presença de metáforas e metonímias, como é a de sua característica. Tira-lhe o brilho, exclui o leitor, fecha a janela que lhe poderia permitir ver a luz sugerida. É certamente POESIA o que se vê neste belo texto, com um ótimo fechamento, perfeita finalização, lembrando o ritmo camoniano do século XV. Mas estamos no século XXI, quinhentos anos nos separam, esteticamente. Em termos de linguagem, de vocabulário, é riquíssimo, ao ponto de utilizar, no título, um sinônimo inusual de mudez, mutismo. Aliás, esta última palavra seria melhor como atrativo para o leitor brasileiro, que lê apenas 0,8 livros ano/ habitante, e, por isto mesmo, não conhece o vocabulário, não sabe o que ele significa. MUTISMO seria o nome que eu escolheria para esta belíssima peça de um poeta que caminha bem em sua magnífica luta com a palavra. Moço já reluz o seu talento. Sinceros parabéns! Abraços do poetinha JM."