TEMPESTADE
Um sujeito me disse que iria viajar
Que aqui não poderia ser o seu lugar
Que não tinha aqui uma missão a cumprir
Que se entediara com a mesmice de sua sina
Que a História se omitira para consigo
Não lhe dando um papel para o ensaio
Que todos executam no seu dia-a-dia
Que se sentia inútil, fraco e ridículo
Que a esperança é um casuísmo de otário
Que a felicidade viaja com o dobro da velocidade
Com que, iludidos, saímos-lhe no encalço
Que a vida é apenas uma sombra do paraíso
Assim, numa límpida e calma noite veraneia
Ao som de um só trovão e à luz de um só relâmpago
Viajou de fato em busca da razão de sua existência
Aquela que na terra não conseguira descobrir
Seu nome a história registrou para sempre
Seu papel, embora não ensaiado, se cumpriu
Mas a esperança afogou-se no mar da vida.