Não é cogente refletir no porvir,
Não surgi para o empós,
Brindo o hoje, o exato sopro
Que me faz existir.
Que rufa dentro do peito,
Feito tempestade de verão.
Anulei o relógio, adsorvi o exterior.
Nem dia, nem noite
Quero que tudo tarde, menos a tarde
Onde o sol arde no meio do céu.
Pra que a pressa, nem sei se quero chegar.
Vou apenas onde meu pensar puder adejar
 
Pode ser que eu plante uma árvore
Ou colha uma simples frase qualquer
Sussurrada pelo vento...
Talvez escreva minhas memórias na areia
E entregue ao mar para decifrá-las,
Que presenteie aos úmidos rochedos
Para que sejam eternizadas
Como farol de lembranças.
E assim, o meu hoje não caia no blecaute,
Depois de um dia de ressaca.
 
Não me importo em vestir o tempo, ele me cabe.
Certamente que não sei quantas estações me restam,
Preocupo-me apenas em senti-las.
Se pensar, não vivo se viver, depois penso.
Quero provar da cal, temperar com sal,
Adoçar o amargo sabor do tempo.
Se eu quiser, dele eu venço.
Mas, contudo prefiro empatar esse jogo...
 
Nego-me a retroceder no olhar,
“O presente já passou...”.
Não irei projetar efígie futurísticas
Com dúvidas e sombras.
Essa imediata imagem, não permite rasura.
A tinta tem de estar fresca com cores quentes.
E se por um pequeno deslize às cortinas se fechem,
Terei completado o ato do tempo,
Tornei-me nua, atravessei o que fui.
E se me perguntares pelo amanhã, somente direi:
Quiçá o amanhã, é ambíguo, é impreciso, é talvez...