Palavras
Palavras são seres vivos
transbordantes de emoção.
Têm vontade própria,
surgem quando querem,
não quando nós queremos,
como bem disse Rubem Alves.
Nem tudo pode ser descrito
por meio de palavras, é fato.
Porém, o que nos restaria
se não houvesse palavras?
Qual seria o marco divisor
entre pré-história e história?
Justiça seja feita às palavras!
Tão poderosas, perigosas,
curam e envenenam,
provam e ocultam,
beneficiam e prejudicam,
esclarecem e confundem.
Uma palavra mal empregada
pode magoar, ferir, iludir,
provocar errôneas interpretações.
Já uma palavra bem colocada
esclarece, ilumina, conforta,
acalenta, acaricia, emociona.
Palavras transmitem os sentimentos
das pessoas que as pronunciam.
Porém, como há pessoas frias,
há também palavras vazias.
Existe uma palavra específica
para cada ocasião.
Ao mesmo tempo em que
uma mesma palavra é empregada
em diversas situações.
Cada língua com suas diferenças
nas palavras, regras, estruturas,
em uma rica diversidade cultural.
Aprender palavras une os homens!
Por meio de palavras,
demonstra-se um sentimento
(mesmo a distância),
enxerga-se um momento
(mesmo não presenciado),
registra-se uma lembrança
(mesmo do distante passado).
Um punhado de letras
não formam uma palavra,
assim como uma frase não é
um mero conjunto de palavras,
mas um encaixe perfeito,
riquíssimo, repleto de significados.
Um texto é a tradução,
um retrato, uma descrição
de um sentimento, de uma ideia,
de um fato, de um momento
– uma vida inteira em palavras!
Palavras são, portanto,
humanas – artísticas, humanísticas,
exatas – inumeráveis, específicas,
e biológicas – vidas apalavradas.
Como bem definiu Octávio Paz,
“A palavra é o próprio homem.
Somos feitos de palavras.
Elas são nossa única realidade
ou, pelo menos, o único
testemunho de nossa realidade.”
E sabiamente concluiu:
“Diversamente do que ocorre
com outros objetos da ciência,
as palavras não vivem fora de nós.
Nós somos o seu mundo, e elas, o nosso.
Para capturar a linguagem
não precisamos mais que usá-la.
As redes de pescar palavras
são feitas de palavras.”
(Catalão, 22/04/2009)