Pedro do Brasil
Pedro descia a calçada.
Rumo à esquina o rapaz caminhava,
Sem remorso, sem dó,
Sem vergonha ou temor.
A calçada de cimento duro,
Dava de forma imparcial o seu testemunho,
De pó, de pedra, de crack e cocaína,
De meninos e meninas
Que descem o morro ao asfalto.
De encontros de burgueses e pobres.
Todos em um só sonho de noites e delírios cariocas.
Pedro parou se sentou no banco da praça,
Em um segundo de reflexão reprisou toda a desgraça,
De sua vida de morte, de sua morte anunciada.
Ouviu ao longe, próximo do asfalto preto,
Som de carro, parado; um motor contando os segundos,
Para em disparada esquecer aquela obrigatória parada.
Apenas mais um coração apavorado...
O jovem, mancebo, chamado Pedro,
Aproxima-se do veículo estacionado;
De arma em punho anuncia mais um assalto.
Estatística do asfalto que sempre sobe para o alto.
Mais um Pedro, um tu ou eu, mais um corpo esticado.
Pedro compra uma pedra;
Ascende sua candeia que ilumina sua escuridão,
E rapidamente se esquece da calçada...