SEXTA-FEIRA
hoje,
sexta-feira,
de uma semana qualquer,
é dia de ver-te nua!
na quinta,
a tua pele delicada cheirava a leite
no sábado,
a sobriedade do traje de gala
te vestiu para jantar.
hoje,
sexta-feira,
não sei bem de qual semana,
é dia de ver-te nua!
os pés
esticados até as canelas
sobre as molas da cadeira do papai
formigou até passar
a preguiça
adormecida pelo corpo
sem mais a crônica dor lombar
das manhãs de sextas-feiras.
hoje,
sexta-feira,
o vermelho marca folhinha:
é dia de ver-te nua!
na pressa,
esqueci de tampar o perfume
cortar o cabelo, fazer a barba
na calma
escanhoada dos dedos estalados
na seda das roupas de baixo.
hoje,
sexta-feira,
há prova do corpo no traje:
é dia de ver-te nua!
anoitece
a mancha do beijo, a boca de manga
nos caroços nus dos seios
despertos
blusa afora, pontiagudos, gripados
respirando qual caracóis.
hoje
sexta-feira,
não sei mais em qual semana,
é dia de ver-te nua!
com fome
a geladeira nos chama
para a sobremesa, alfazema
perfumada
nos ladrilhos dos olhos enxutos
acarinhados por dois cotonetes.
hoje,
sexta-feira,
é dia de abortar os sábados;
assim sendo,
ver-te-ei nua sempre:
segunda, terça, quarta,
feriados, fins-de-semana...