SORRISO VERMELHO
A vocês poetas e músicos
Trago uma boa notícia
Queimei o vestido de chita
E a capa do violão
Atirei também na fogueira
De orgulhos e vaidades
O livro das tempestades
O ofício do dono dos tempos
E guardei em terra sagrada
Os olhos das cidades egípcias
Cegados pelo brilho do sol
E as sementes dos meus girassóis
As cinzas do incêndio das coisas
Joguei da mais alta montanha
Pra que viajassem no vento
Ou caíssem nas águas do mar
E faminta talvez de andanças
Feito moura cigana errante
Montei na borboleta azul
Parti do meu país distante
Segui meu destino incerto
Em busca de algum paraíso
Decepei sete cabeças
De imaginários dragões
E devorei suas vísceras
Brindei e bebi-lhes o sangue
Saciada de prazer
Dilacerada de dor
De minha boca escorre veneno
Minha mente se perdeu
A alma lavada é sombria
O coração diamante
De um corpo de alguém que morreu
E diante do teu espelho
O meu sorriso vermelho
Não reflete a imagem do amor.