Retrato da Solidão


Sentir-se um hiato, um clandestino,
Um espaço nulo, sem forma ou dimensão...
Uma travessia sem rumo, um nauta perdido,
Um corpo sem alma e coração.

Olhar em volta, aguçar o olfato
E nada mais reconhecer...
Ser anônimo entre os agonizantes,
Um tuaregue das areias escaldantes.

Perguntar-se e responder-se
Recordar a ausência de ninguém...
Andar sem caminhar, viver sem identidade...
Executar  o próprio réquiem.

Ver uma flor e senti-la morta,
Ter uma nota e não poder pô-la na pauta,
Uma palavra e ninguém a dizer...
Preencher o todo de vazio.

Ansiar por vozes e notícias de outros mundos,
Querer até mesmo um empurrão....
Arranhar-se, abraçar-se, matar-se,
Enlaçar os dedos, apertar a própria mão.

Escutar de si o eco nas paredes,
Viver noites brancas, cobertas de antigo pó...
As janelas abertas, as portas sem trancas
Mas sem entradas nem saídas...Só.

Ter febre, mergulhar na loucura,
Visitar o Inferno de Dante!
Dedicar sua ternura a um objeto,
Fazer do choro, do poema, um amante.




imagem Google

KATHLEEN LESSA
Enviado por KATHLEEN LESSA em 06/10/2006
Reeditado em 14/08/2009
Código do texto: T257688
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