Ana ninguém

Choveu muito esta semana.

Os pingos de chuva contaram uma estória.

Recente.

A que muita gente sente.

O peso.

O preço.

A água ganhou vida na casa.

Ganhou forma de verbas perdidas.

Ela não falava coisas amigas.

Seu barulho acordou o menino.

Os velhos só puderam rezar.

Que azar!

O brasileiro limpa tudo.

No outro dia volta a sonhar.

Virá uma fada.

Safada.

Já devia ter vindo antes.

Demorada senhora envelhecida pelos séculos.

Até o cacique esperou por ela.

As penas se tornaram poeira.

Contei para os curumins a estória de Cinderela.

Mas na verdade seu nome era Ana.

O barranco desceu.

A gravidade não falhou.

A casa sumiu.

E Ana também.

Choveu muito estes dias.

Roosevelt leite
Enviado por Roosevelt leite em 24/10/2010
Reeditado em 25/11/2016
Código do texto: T2575323
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